ANALISANDOS: O ESTUPRO NO IPEA E A  “CAMPANHA NÃO MEREÇO SER ESTUPRADA”

 

 

            Antes de começar a entrar na essência do assunto, temos algumas afirmações epistemológicas, jurídicas e psicanalíticas sobre a questão do estupro.

            Sobre o estupro, gostaríamos não como dono da verdade, colocar algumas elucubrações:

I.      A psicanálise trabalha com três estruturas clínicas que devem ser tratadas. A estrutura neurótica. A estrutura perversa. A estrutura psicótica. O fenômeno do estupro e o perfil psíquico do estuprador encontram-se na ESTRUTURA PERVERSA,

II.     O fenômeno do estupro é um ato de grande perversidade, onde a ideia do Bem está excluída ou foracluída do campo ético do sujeito. Portanto, o ato de estuprar é uma grave patologia mental, estruturada, normalmente, do nascimento até o fim da primeira infância. As figuras parentais do sujeito, com estrutura para o estupro, não fizeram devidamente a castração e a simbolização de pulsões sexuais excessivas, que estão na fantasia desde o nascimento do bebê. Nem por isso deixa de ser um crime hediondo contra a mulher. O inconsciente em certas situações deve ser responsabilizado. Na Alemanha, além da castração (retirada dos testículos), é aplicada uma pena de perda da liberdade e a psicoterapia.

III.   As pesquisas sobre o estupro, uma grave perversão, estão na esfera da psicanálise, psicologia e psiquiatria. Podemos incluir também a sexologia.

Neste momento, ao cogitar o assunto, sou acometido pelo Das Unheimliches (a inquietante estranheza freudiana). IPEA. Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas. Questiono a legitimidade de um órgão especializado em pesquisas econômicas. Fazer perguntas e pesquisas junto à população sobre ponto tão complexo que, sem dúvidas, é competência das ciências do psiquismo. Incluo também as neurociências.

                        O IPEA teria feito uma necessária pesquisa anterior a essa? Nos casos de estupro que ocorreram. As mulheres estavam mais vestidas ou menos vestidas? A questão de usar menos roupas e mostrar partes do corpo. Não é hábito apenas das mulheres no mundo ocidental. Uma parcela dos homens usa roupas muito coladas no corpo. Como se fossem peles. Decotes. Exibem completamente a corporeidade. Às vezes ocorre o delineamento dos órgãos genitais. Roupas sumárias? Isto não pode ser associado a nenhum sexo.

                        Estou solidário com as mulheres brasileiras que ficaram intensamente incomodadas  com a dita pesquisa.

                        Vamos lembrar Martin Heidegger, grande filósofo alemão. Na sua obra “Ser e Tempo”(Sein und Zeit) e outras, onde coloca interessante questão. A pergunta feita ao interrogado, frequentemente, já contém a resposta. O que o IPEA colocou à população? “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas (estupradas)?” Essa pergunta feita pelo Estado (uma organização com o bio-poder político) já contém uma resposta radical. A resposta à pergunta responsiva faz sugestões inadequadas ao interrogado. Será que o interrogado respondeu estimulado pela sugestão. Foi influenciado pelo poder do Estado. Até como discurso do inconsciente.

                        A pesquisa é profundamente maldosa. Os pesquisadores demonstraram ignorância, e ódio, uma das paixões da alma segundo Jacques Lacan. Atribuir à mulher a responsabilidade pelo estupro!!! Mostra total desconhecimento das estruturas psicanalíticas. Entre elas, a estrutura perversa. Cito outros atos ligados à estrutura psíquica perversa. O fetichismo. O exibicionismo. O sado-masoquismo. A pedofilia. A necrofilia. O voyeurismo, etc.

                        É sabido que no Brasil há uma divisão igualitária dos eleitores entre os sexos. Aproximadamente 50% do eleitorado é constituído de mulheres. Os outros 50 % constituído de homens. Na corrida presidencial há candidatos e candidatas. Essa aflição gerada no sujeito homem e sujeito mulher. Poderia ter o objetivo de dividir, criar conflitos, com objetivos político-eleitorais.

                        Repito a minha solidariedade, meu carinho e minha preocupação pelo bem estar e segurança da mulher brasileira. A foraclusão do supremo Bem em benefício da mulher. O Bem segundo Platão e Aristóteles. O Bem segundo Jacques Lacan, no Seminário, livro ”A Ética da Psicanálise”.

                        A mulher não pode ser vítima de diabolismos maquiavélicos. Venham de onde vier.

 

Cumprimento ardorosamente todas as brasileiras e mulheres do mundo,

Psicanalista Dr. Campos Menezes